Agravamento da crise
Cosulati luta para não interromper 100% das atividades
Com volume abaixo dos quatro mil litros de leite arrecadados por dia, direção da Cooperativa segue em busca de parcerias
Carlos Queiroz -
A crise financeira é cada vez mais intensa na Cosulati. A fábrica de laticínios, no Capão do Leão - a única que segue de portas abertas -, tem ficado a maior parte do tempo fora de operação. Com apenas 30 famílias comprometidas em entregar a produção à Cooperativa, a média, não raro, fica abaixo dos quatro mil litros de leite recebidos por dia. Não há outro jeito: luzes desligadas, maquinário parado e funcionários em casa, à espera de chamamento. A indústria só tem funcionado de um a dois dias por semana.
O silêncio é ensurdecedor. Uma das batedeiras com capacidade de produzir até 500 quilos de manteiga está há mais de 20 dias sem operar. E a escassez não é só de matéria-prima. Com as dificuldades, faltam também insumos básicos. É o caso da manteiga com sal. Mesmo que crescessem os estoques de leite, não há como colocar o produto imediatamente no mercado; ainda que seja um dos preferidos dos consumidores. E este é apenas um dos exemplos.
"Tá doloroso. A gente tá fazendo de tudo pra evitar que a fábrica pare. É muita ansiedade em querer resolver", afirma o diretor-administrativo, Almir Mendonça, ao conversar com o Diário Popular por telefone. Com a tensão pela falta de respostas e com dívidas acumuladas com trabalhadores e produtores, os últimos dias têm sido de pressão arterial e de taxa de açúcar em alta, bateria de exames e remédios. "A gente acaba adoecendo", admite, com a tristeza de quem esteve ao lado da Cosulati desde a infância, quando o pai - hoje com 84 anos - já vendia a produção para a cooperativa.
É um clima de tristeza que chega, também, aos funcionários; principalmente, entre os que podem fazer o paralelo entre a potência que um dia já foram e o atual emaranhado de problemas e cobranças.
Trabalhadores e produtores com verbas em atraso
As pendências com essas duas pontas da engrenagem ajudam a reforçar o clima de incerteza sobre as atividades. Os 143 funcionários não receberam nem a íntegra dos salários de janeiro. Ainda faltam 25%. Os vencimentos de fevereiro e de março, claro, e o 13º salário de 2021 também se acumulam. Entre os produtores, o cenário é igualmente delicado. Estão em aberto os pagamentos de fevereiro e de março. "E sabemos que são caras como nós, que estão lutando até agora", reconhece Mendonça.
E com número limitado de produtores, sobem os custos para manter a rota. Os 30 endereços em que o caminhão faz as paradas para buscar o leite, ficam em diferentes municípios: Arroio do Padre, Rio Grande, Morro Redondo, Cerrito, Pelotas... Deslocamentos cumpridos, às vezes, para buscar em torno de 500 litros de leite. Uma quantidade baixa, mas que não pode ser desprezada.
Compromissos na agenda!
- Assembleia geral: Está agendada para o dia 4 de maio. Além de prestação de contas, a gestão da Cosulati também terá a oportunidade de sentar e trocar ideias e alternativas com os cooperados. O futuro, sem dúvida, entrará em pauta.
- Leilão do prédio da Praça 20 de Setembro: Está marcado para 9 de junho. A estimativa é de que o lance mínimo seja de aproximadamente R$ 20 milhões. A verba, entretanto, não representará injeção de capital de giro. O recurso deve ser distribuído entre duas prioridades: pagar parte da dívida de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e honrar valores de ações trabalhistas.
Esperança com o Recoop não deve se confirmar
A liberação de dinheiro através do Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária (Recoop) segue no radar da direção da Cosulati. "Estamos tentando resgatar esta possibilidade. Já fizemos reunião com tudo que é político, mas nunca saiu das conversas", lamenta Almir Mendonça. A expectativa, ao longo das negociações em 2020, era de que a Cosulati conseguisse acessar em torno de R$ 20 milhões para se capitalizar, colocar as dívidas mais urgentes em dia, que permitissem aumentar o volume de leite, que resultasse em produtos à disposição dos clientes nas prateleiras. É o caminho para a máquina girar.
Nesta terça-feira (12), ao procurar a Secretaria Estadual de Agricultura para verificar a perspectiva de o Recoop continuar na mira, a resposta não foi nada positiva à Zona Sul. "Neste momento, não há recursos disponíveis no âmbito do Recoop", afirmou o órgão, via assessoria de imprensa, no final da tarde.
"Queria ver se deixava uma solução pro pessoal", enfatiza o diretor-administrativo da Cosulati. "Mas a gente tá morrendo afogado num pires d´água", desabafa.
Confira o paralelo
* Funcionários:
- Antes da crise: Cerca de 850 trabalhadores, entre as três unidades: Laticínios no Capão do Leão, Frango em Morro Redondo e Fábrica de rações em Canguçu
- Atualmente: 143 trabalhadores
* Volume de leite por dia:
- Capacidade total da fábrica: 1 milhão de litros, entre a torre de secagem para produção de leite em pó e o maquinário para os outros produtos
- Arrecadação média em novembro de 2019, antes da pandemia: 50 mil litros
- Atualmente: entre 3 mil e 4 mil litros
* Produtores envolvidos:
- Antes da crise: em torno de 15 mil famílias da região, consideradas as três fábricas
- Atualmente: Apenas 30 produtores
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